sábado, 3 de novembro de 2012

Intervenção do alferes Monteiro na proclamação da República em Setúbal no dia 5 de Outubro de 1910


© Família de António Aniceto Monteiro
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Nós abaixo assinados, membros das commissões municipal e parochiaes da cidade de Setubal, declaramos: Que na madrugada de cinco de outubro de mil novecentos e dez, o snr. Antonio Ribeiro Monteiro, ao tempo alferes de infantaria onze, tendo sahido com uma força daquele regimento para a policia da cidade, adheriu com os soldados do seu comando ao movimento revolucionario, confraternisando com o povo em favor da Republica, pondo-se incondicionalmente á disposição dos elementos republicanos da cidade, auxiliando-os na manutenção da ordem, que desde logo ficou assegurada. Que estes factos se deram muitas horas antes da proclamação da Republica, com grave compromisso para aquele brioso oficial, caso o movimento revolucionario tivesse fracassado. Que o referido oficial foi sempre tido como um espirito liberal de ideias avançadas que ostensivamente manifestava com risco do logar que ocupava. Que por tudo isto julgamos o snr. Antonio Ribeiro Monteiro um cidadão prestante á causa da Patria e da Republica e digno portanto do respeito e consideração de todos os bons republicanos. Setúbal vinte e três de setembro de mil novecentos e onze. (...)
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Entretanto, tinha ocorrido a revolução republicana de 5 de Outubro e, a esse propósito, o relatório do coronel Narciso d’Andrade refere:
“Por ocasião da Revolução que proclamou a Republica em Portugal, Setúbal foi, como se sabe, theatro de desorientação popular que se traduziu por incendios a repartições publicas, egrejas, etc.
Necessario se tornava mandar para a rua a força publica com o fim de evitar, sendo possivel a continuação de similhantes desvairamentos. Um capitão e um subalterno, levando sob o seu comando as praças disponiveis, saíram a coadjuvar a autoridade. Porem a população desrespeitou a força e feriu gravemente o seu comandante, bastante conhecido pelas suas ideias liberaes. Teve a força de retirar, à vista de similhante attitude.
Foi então que chamei o Alferes Monteiro e com uma diminuta força o encarreguei de se dirigir ao povo e obstar à continuação dos vandalismos até então praticados e em ameaça de continuarem.
De tal forma se houve e tal diplomacia desenvolveu que toda a gente acolheu com palmas as palavras do Alferes Monteiro e debandou sem que houvesse a mais leve resistencia ou continuassem na pratica dos actos pelos mesmos praticados. Attenta a attitude do povo, expôs-se n’esta difficil missão, aquelle illustre official, não só a ser desrespeitado como a ser esmagado pelo povo.
A pacificação e tranquillidade dos animos foi obtida pelo habil official da seguinte forma: Mandou fazer alto à sua força a uma distancia consideravel dos ajuntamentos, mas de forma que por todos fosse presenciado. Embainha depois a sua espada e dirigindo-se ao povo, falla-lhe tão patrioticamente que começando a ser ouvido com apupos terminou por ser obedecido com vivas e palmas.
Dias depois a população de Setubal, reconhecedora, combinava-se para lhe preparar uma manifestação de simphatia. Ignoro se se chegou a realizar; mas realizasse ou não, certo é que o Senhor Alferes Monteiro, é hoje, em Setubal, a pessoa de mais consideração que a sua cidade encerra”.
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