domingo, 21 de janeiro de 2018

Na morte de Soeiro Pereira Gomes – carta de António Aniceto Monteiro para Alfredo Pereira Gomes, de 31 de Janeiro de 1950

(continua)
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Antes de mais nada quero enviar-lhe os meus pêsames pelo falecimento de seu irmão. Tive ontem essa triste notícia por intermédio de minha mulher, que me a tinha ocultado para me evitar mais um desgosto depois do período que tenho passado cheio de inquietações e aborrecimentos. Embarquei para a Argentina no dia 30 de Novembro, mas a Lídia só partiu no dia 15 de Dez. por causa dos exames dos garotos. Foi nesse período que chegou uma carta do Ferreira Marques com a triste notícia. Entretanto nada me comunicou, sem coragem para o fazer. Mas ontem quando lhe disse que lhe ia escrever, não teve outro remédio.
Não encontro palavras para lhe exprimir o desgosto que senti. Tinha por seu irmão uma grande estima e admiração. Considerava-o um dos representantes mais ilustres daquela inteligência por­tuguesa que coloca os interesses do povo da nossa terra acima de tudo, que sabe viver e sofrer por ele sem medir os sacrifícios. Foi um desastre para a nossa cultura que ele tivesse falecido em plena juventude, quando tanto nos podia ainda dar. Parece que o destino se compraz em nos levar o que temos de melhor, como se não bastassem já os sofrimentos de tantos anos de ditadura, acom­panhados do aniquilamento de tantas esperanças e sonhos. Sinto cada vez uma amargura maior, com tudo o que se vai passando em Portugal. Segundo as notícias que me mandam, devemos encarar por largo tempo a hipótese de não voltar. Recebi em Setembro passado uma carta do Sebastião Silva, que dava vontade de chorar.
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Soeiro Pereira Gomes faleceu no dia 5 de Dezembro de 1949, precisamente o dia em que Monteiro chegou a Buenos Aires.
Ver neste blogue: Soeiro Pereira Gomes
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Carta de Sebastião e Silva mencionada nesta:
«Se eu conseguir manter-me aqui, creia que não pensarei apenas em mim: esforçar-me-ei, nos limites do possível, por dar continuidade à sua obra iniciada há dez anos e cuja vitalidade, apesar de tudo, tem sido muito superior ao que podíamos esperar. Pode dizer-se que Portugal só passou a existir, no domínio da Matemática, a partir da sua actuação.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 22 de Setembro de 1949