domingo, 31 de dezembro de 2017
«Informo a V. S. que o Magnífico Reitor da Universidade, com o ofício nº 6603 de 3 do corrente mês de Dezembro, comunicou que o contrato entre V. S. e o Governo da República, para a função de regente da cadeira de Análise Superior desta Faculdade, nos termos da cláusula sétima, não será renovado no próximo ano.» – carta do director da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil para António Aniceto Monteiro, de 23 de Dezembro de 1948
sábado, 30 de dezembro de 2017
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
sábado, 23 de dezembro de 2017
«Seu nome é bem conhecido e estimado em nosso meio universitário, e recentemente chegaram às nossas mãos recomendações especiais dos professores von Neumann e Einstein, que mais acentuaram nosso desejo de contar com a sua colaboração.» – carta do director da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil para António Aniceto Monteiro, de 16 de Julho de 1943
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
«Não quereria você vir por um ano ou dois, para continuar depois, se lhe agradasse a situação? (…) Não se animaria você em ir como Director do Instituto de Matemática de Rosário, como lhe falei em tempos? (…) Agora estou de novo a cargo do Instituto de Matemática. Peço-lhe de novo que me aclare se está disposto a vir a Bahía ou para Bahía...» - carta de António Aniceto Monteiro para Sebastião e Silva, de 24 de Julho e 18 de Outubro de 1962
«As notícias que me manda da Universidade de Lisboa são muito animadoras e não as conhecia. É mais um índice do despertar desta longa noite de 36 anos. Os acontecimentos decisivos têm lugar em África e conduzirão ao desmoronamento do império colonial – tão apregoado no passado e tão silenciado agora. Em breve, segundo penso, despertará o país para acontecimentos decisivos.» - carta de António Aniceto Monteiro para Sebastião e Silva, de 24 de Julho e 18 de Outubro de 1962
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
«Todos os estudantes, de todas Faculdades e Institutos, quaisquer que fossem as suas ideias políticas ou religiosas, se puseram em greve, com o apoio declarado dos professores (excepto dos de Direito). O Governo teimou em não ver nisto um sintoma de descontentamento geral e, em vez de abrir os olhos à realidade, optou pela repressão. Não posso imaginar o que irá suceder no nosso País com este andar das coisas. (…) Quando terei eu o prazer de o abraçar ali [Lisboa] após tantos anos de ausência?» - excertos da carta de Sebastião e Silva, escrita de Heidelberg, para António Aniceto Monteiro, de 11 de Julho de 1962
«É tentadora a ideia de me candidatar para sucessor do Beppo Levi. Mas neste momento é-me muito difícil cortar aqui as amarras. (…) Muito me alegrou a notícia da sua próxima visita à Europa. (…) Tive então a oportunidade de conhecer pela primeira vez o Nachbin.» - excertos da carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 11 de Outubro de 1961
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
«… parto amanhã com a minha mulher para Edimburgo afim de participar na Assembleia Geral da UMI e no Congresso Internacional. (…) O Ruy acaba de conseguir o passaporte, o que é uma grande coisa. Vai também agora a Edimburgo. (…) O Hugo deu-me há dias a grande alegria de fazer duas conferências no nosso velho Centro de Estudos.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 8 de Agosto de 1958
«Neste momento estão aqui Rasiowa e Sikorski… (…) Este ano passa aqui o ano sabático o professor Dodera de Montevideo. (…) Vejo que a sua vida aí em Lisboa não está rodeada das condições tão necessárias para o trabalho científico. (…) Realmente, como lhe disse Pi, sofremos bastante de nostalgia de Portugal; sobretudo quando pensamos que nem sequer podemos ir aí de visita enquanto dura essa situação, que parece eternizar-se.» - carta de António Aniceto Monteiro para Sebastião e Silva, de 19 de Julho de 1958
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
O exílio de António Aniceto Monteiro
O exílio de António Aniceto Monteiro (*)
Jorge Rezende
António Aniceto Monteiro (1907-1980) foi a mais importante figura da década
prodigiosa da matemática portuguesa dos anos 30 e 40 do século passado. Foi o
primeiro secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Matemática e talvez o
principal impulsionador da sua fundação. Exilou-se no Brasil no princípio de
1945.
Uma carta da Secção de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade
de Lisboa (FCUL), datada de 7 de Outubro de 1976, assinada por vários
professores encabeçados por Alfredo Pereira Gomes, que provavelmente a
escreveu, e dirigida ao Secretário de Estado da Investigação Científica, dizia
explicitamente: «O
Professor António Aniceto Monteiro após o seu Doutoramento em Paris, como
bolseiro do Instituto de Alta Cultura [IAC], foi nomeado, em Julho de 1936,
investigador deste Instituto tendo sido em Outubro do mesmo ano demitido pela
honrosa razão de não assinar a declaração do conhecido decreto nº 27.003
[«Declaro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela
Constituição Política de 1933, com activo repúdio do comunismo e de todas as
ideias subversivas»] ficando em consequência impossibilitado de prosseguir uma
carreira docente universitária o que havia de o conduzir ao exílio anos mais
tarde.»
Já em 31 de Outubro de 1945, Manuel Valadares (físico, que veio a ser
professor catedrático da FCUL), em carta publicada no jornal «República»,
referia: «Regressado
ao País e mau grado o valor dos trabalhos que realizara no estrangeiro,
[Monteiro] não encontrou lugar no corpo docente de nenhuma das três Faculdades
de Ciências do País. Passou então a viver com uma modestíssima bolsa que o IAC
lhe concedeu; passados alguns meses, exigiram-lhe, para poder continuar a ser
bolseiro, a assinatura de um compromisso politico — que pessoa alguma lhe havia
imposto ao enviá-lo para o estrangeiro. Tendo-se recusado a assinar um
compromisso que repugnava a sua consciência, deixou de ser bolseiro, e a sua
vida e a dos seus decorreu, de aí em diante, em condições de dificuldade
económica que, por vezes, roçaram pela miséria.»
Tanto Pereira Gomes como Valadares sabiam do que falavam. Ambos eram amigos
íntimos de Monteiro, companheiros de lutas e de exílios. O primeiro fez o
doutoramento sob a sua orientação e o segundo foi bolseiro em Paris na mesma
altura em que Monteiro lá esteve e era seu compadre, padrinho do filho mais
novo.
Estas cartas confirmam e explicitam aquilo que Monteiro disse, já no
exílio, numa entrevista ao jornal brasileiro «Correio da Manhã» de 10 de
Novembro de 1945: «Simplesmente,
recusei assinar um papel de compromisso político para poder leccionar…
matemática. Por isso não me nomearam; nem modesto funcionário podia ser lá [em
Portugal]. Teria que morrer à fome, com os meus, doutorado pela Sorbonne. O
próprio IAC me avisou, em Outubro de 1941, de que era preferível sair do país.»
A partir de finais de 1936, Monteiro viveu ainda com pequenos rendimentos
tais como um subsídio pago pelo IAC (cujo presidente era Celestino da Costa) como
colaborador no serviço de inventariação da bibliografia científica existente em
Portugal. Mas no final de 1941 ou princípio de 1942 o Ministro da Educação
Nacional, Mário de Figueiredo, demitiu Celestino da Costa e em Dezembro de 1942
«dispensou» os serviços de Monteiro, isto é, despediu-o.
António Aniceto Monteiro exilou-se pois no Brasil em 1945 porque estava
desempregado, não tinha meios de subsistência em Portugal, por se recusar a
assinar a tal declaração de submissão ao regime político salazarista.
A principal razão que me leva a escrever este artigo é o facto de ter lido
na Wikipedia, a propósito de
António Aniceto Monteiro, que
«Existem duas interpretações dos
motivos que o terão levado a abandonar Portugal. Uma primeira interpretação
refere motivos políticos, que ele foi impedido de ter uma carreira
universitária em Portugal, pois recusou-se a assinar um documento onde
declarava o apoio ao salazarismo e o repúdio ao comunismo e às «ideias
subversivas». Uma outra interpretação é a de que o próprio António Aniceto
Monteiro deixou escrito de forma clara que abandonou o país, não por motivos ou
perseguições políticas mas, por estar saturado das obstruções dos seus pares
académicos.»
Para esta segunda «interpretação», a Wikipedia remete o leitor
para o livro de Jorge Buescu «Matemática em Portugal, Uma Questão de
Educação». De facto, foi este autor que imaginou tal
«interpretação». Segundo ele, as razões que levaram
Monteiro ao exílio estão num artigo do nº 10 da «Gazeta de Matemática», de
Abril de 1942, páginas 25-26, «Origem e objectivo desta Secção [MOVIMENTO
MATEMÁTICO]», que está reproduzido no Anexo. É aqui que,
segundo a Wikipedia, Monteiro
«deixou escrito de forma clara» os motivos do seu exílio.
O leitor procure na rede este artigo de Monteiro («Origem e objectivo desta Secção [MOVIMENTO
MATEMÁTICO]»), ou leia-o no Anexo, e verifique se aí está
explicado que foi por estar «saturado
da obstrução dos colegas» que ele «decide
abandonar o País em 1943, acabando por partir para o Brasil em 1945», conforme
afirma Jorge Buescu no seu livro. A verdade é que não está – não há
no texto de Monteiro qualquer referência a uma intenção de se exilar.
É certo que eu já abordei este assunto nos meus artigos «Sobre as perseguições a cientistas durante
o fascismo» (Revista «Vértice», 166) e «António Aniceto
Monteiro – lutas, perseguições e exílios» («Boletim» da Sociedade Portuguesa de
Matemática, 74). Mas também é verdade que continuam a alastrar na rede citações
da referida «interpretação», devido à projecção mediática do seu autor. É, por
exemplo, o caso da versão inglesa da entrada sobre António Aniceto Monteiro na Wikipedia.
Este falseamento da História é tanto mais estranho quanto o seu autor tem
escrito vários artigos de opinião (nomeadamente, no jornal «Público») onde tem
proclamado ser um acérrimo defensor «do conhecimento, do rigor e da exigência».
Pois em nome do conhecimento, do rigor e da exigência já é mais do que
tempo de ser reparado este mal que foi feito.
ANEXO
Origem e objectivo desta Secção
Pensou-se há algum tempo em
publicar um jornal — que teria por título Movimento
Matemático — destinado a lançar uma campanha para uma reforma dos estudos
matemáticos em Portugal e a fazer a propaganda das principais correntes do
movimento matemático moderno.
Parece-me evidente a
necessidade de publicar um tal jornal precisamente porque o nosso país anda
longe das correntes vitais do pensamento matemático moderno e porque o nosso
ensino das ciências matemáticas necessita de uma remodelação completa:
remodelação dos programas de estudo, da organização da licenciatura em
Ciências Matemáticas, da preparação dos professores do ensino secundário, das
provas de doutoramento e dos métodos de recrutamento do pessoal docente
universitário.
É indiscutível que
assistimos hoje no nosso país a uma verdadeira efervescência de actividade no
campo das ciências matemáticas. Demonstram esta afirmação o aparecimento
sucessivo no curto prazo de cinco anos de 1.º) Portugaliae Mathematica, fundada em 1937; 2.º) Seminário Matemático de Lisboa (1938) que toma em Novembro de 1939
o nome de Seminário de Análise Geral;
3.º) Centro de Estudos de Matemáticas
Aplicadas à Economia, fundado pelo 1.º Grupo do Instituto Superior de
Ciências Económicas e Financeiras (1938); 4.º) Gazeta de Matemática, Janeiro de 1939; 5.º) Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa, fundado pelo Instituto
para a Alta Cultura em Fevereiro de 1940; 6.º) Sociedade Portuguesa de Matemática, Dezembro de 1940; 7.º) Centro de Estudos Matemáticos do Porto,
fundado pelo Instituto para a Alta Cultura em Fevereiro de 1942.
Anuncia-se para breve a
publicação do Boletim da Sociedade
Portuguesa de Matemática, das Publicações
da Secção de Matemática da Faculdade de Ciências do Porto e de uma colecção
de Estudos de Matemática; projecta-se
a criação de um Estúdio de Matemática
em Lisboa.
Todas estas organizações e
publicações trabalham por um ressurgimento da cultura matemática portuguesa!
Se tudo isto é muito
animador e nos permite ter esperanças num triunfo mais ou menos próximo, não
devemos ter ilusões de espécie alguma sobre as dificuldades que nos esperam!
Há que contar — isto é de
todos os tempos! — com um recrudescimento da hostilidade da ignorância e da má
fé; da hostilidade daqueles para quem a estagnação ou a decadência da nossa
cultura matemática é a condição necessária para a realização de objectivos que
nada têm que ver com as ciências matemáticas, daqueles que tremem perante a
ideia da existência de uma juventude estudiosa consagrando inteiramente a sua
vida e o seu entusiasmo a uma causa pela qual eles nunca lutaram — porque o esforço
e a diligência no estudo revelam de uma maneira evidente os erros do passado e
as deficiências do presente —, da má-fé daqueles que apregoam um interesse e um
entusiasmo pelo desenvolvimento da cultura matemática que são desmentidos
categoricamente pela sua actuação presente, da má-fé daqueles que consideram
como revelações de inteligência e de capacidade a adoração da rotina que o uso
consagrou e de que eles são por vezes os mais legítimos representantes; há que
contar ainda com a ignorância (e que enciclopédica ignorância!) daqueles que
afirmam que o nosso país está perfeitissimamente ao corrente do movimento
matemático moderno, que o nível dos nossos estudos matemáticos se pode por a
par do dos países mais avançados, e finalmente há que contar com a indiferença
(que estranha e cómoda indiferença!) daqueles que dizem que no nosso país não
há nada a fazer, que os portugueses são incapazes de realizar um esforço
persistente e continuado e que portanto são incapazes de contribuir para o
progresso das ciências matemáticas!
Pensamos que o aparecimento
destas manifestações deve servir apenas para nos indicar que seguimos pelo
bom caminho — porque a cada tarefa realizada a reacção deve aumentar — e que
nunca devemos desviar a nossa atenção do trabalho metódico e persistente para
controvérsias de carácter duvidoso.
É precisamente pelo estudo,
pelo trabalho de investigação e pela propaganda das matemáticas, que se pode
preparar o ressurgimento dos estudos matemáticos em Portugal, mas importa
evidentemente orientar a nossa actuação pelas lições que nos são dadas pela
nossa experiência e pela experiência das outras nações. Há que definir um rumo,
e segui-lo enquanto a experiência mostrar que estamos no bom caminho!
O desenvolvimento rápido da
Gazeta de Matemática — em particular
a partir do início do presente ano lectivo — tornou possível o alargamento
imediato da sua acção cultural e daí nasceu a ideia — para evitar uma dispersão
de esforços que o momento actual não permite — de criar na Gazeta uma secção em que se desenvolveria a pouco e pouco o plano
de acção que se pretendia realizar no Movimento Matemático. É esta a origem
desta secção que se iniciou no n.º 9 da Gazeta.
Infelizmente a situação
actual da Gazeta não permite ainda
dar a esta secção todo o desenvolvimento que era necessário. Por isso temos que
nos limitar a assinalar aos leitores deste número as realizações e iniciativas
de valor cultural sob o ponto de vista matemático de que temos conhecimento.
Esperamos que em breve seja possível, por meio da colaboração efectiva de todas
as pessoas interessadas no desenvolvimento da cultura matemática, lançar uma
campanha para uma reforma dos estudos matemáticos em Portugal e fazer a
propaganda das principais correntes do movimento matemático moderno.
ANTÓNIO MONTEIRO
(*) Artigo publicado originalmente no blogue «De Rerum Natura»
«Quanto aos professores da Faculdade de Ciências, a hostilidade ao nosso Centro de Estudos (e digo nosso porque o Centro que estou dirigindo descende, em linha recta, do que foi lançado pelo Doutor Monteiro) tem-se concentrado… (…) Eu devia ter começado por responder à proposta que me faz na sua carta, em termos de tocante amizade… (…) A sua proposta é deveras atraente, de todos os pontos de vista, e só razões fortes poderiam impedir-me de aceitá-la. (…) Lamento sinceramente não poder corresponder, desta vez, ao seu bom desejo…» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 6 de Julho de 1958
«Desde que lhe escrevi a última carta, deram-se factos importantes na minha vida. Nasceram dois filhos meus… (…) Fui assim levado a escrever livros para os liceus. (…) Apesar destas actividades impostas pelas circunstâncias, tenho conseguido levar o Centro de Estudos a um ritmo animador.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 6 de Julho de 1958
domingo, 17 de dezembro de 2017
«[Pi Calleja] Disse-me também que o Doutor Monteiro e a sua Senhora sofrem de nostalgia de Portugal. Eu já tive menos esperanças de que o seu regresso (a que, periodicamente, assisto em sonhos) se converta numa realidade.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 6 de Julho de 1958
(continua)
-
Nota: Para quem achar estranha esta afirmação de Sebastião e Silva, lembro que
«Encontro-me agora em Bahía Blanca para organizar um Instituto de Matemática desde Julho do ano passado. Escrevo-lhe para convidá-lo a dictar um curso no segundo semestre deste ano (de Agosto a Dezembro) sobre funções reais… (…) Necessito que o Sebastião me ajude en este momento...» - carta de António Aniceto Monteiro para Sebastião e Silva, de 15 de Junho de 1958
sábado, 16 de dezembro de 2017
«Fiquei com pena que não se decida a vir. (…) Não recebi até hoje nenhum exemplar da revista da (…) Associação dos Estudantes. (…) Muito lhe agradeço as démarches que fez para conseguir que me mandem a revista da Faculdade. (…) Nunca recebi notícias do Almeida Costa e portanto não recebi nenhum convite para colaborar no número de homenagem ao Mira Fernandes. (…) Agradeça ao Vicente o convite e pergunte pelo prazo.» - carta de António Aniceto Monteiro para Sebastião e Silva, de 7 de Janeiro de 1955
«O que me conta da possibilidade de [eu] ir para San Juan é deveras aliciante… (…) A possibilidade de trabalhar em condições tão favoráveis, de fazer a vida como eu idealizo, de reatar a actividade que iniciámos aqui, há anos, com tanto entusiasmo e fé no futuro – tudo isso é tentador, tudo isso contrasta com a insatisfação que eu sinto aqui. (…) Mas não posso aceitar a oportunidade que me oferece. (…) O seu artigo foi de facto publicado e posso dizer-lhe que foi lido com muito interesse. É natural que o medo tenha feito hesitar os nossos em publicá-lo; para quem vive nesta atmosfera, isso nada tem de extraordinário.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 15 de Dezembro de 1954
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
«As notícias que me dá não me surpreendem. Não se pode esperar outra coisa desse ambiente social e dessa Faculdade, que tem o pessoal que corresponde aos seus objectivos actuais. Queria escrever-lhe para saber se está interessado em vir para a Argentina. (…) Vou escrever ao Pereira Gomes e ao Zaluar no mesmo sentido. (…) Sempre vivi tranquilo aqui em San Juan, e tenho tempo para estudar.» - carta de António Aniceto Monteiro para Sebastião e Silva, de 9 de Dezembro de 1954
«Está em vias de publicação um trabalho meu em que faço, por via axiomática, uma nova sistematização da teoria das distribuições, sistematização que já está a ser seguida pelo Köthe num curso de Mogúncia. Claro que tenho vindo a trocar impressões com o Schwartz sobre o assunto. Em Setembro assisti ao Congresso em Amsterdam. Lá conheci alguns argentinos e o M. Cotlar. Este (…) deu-me de si notícias muito interessantes. (…) Os meus problemas actuais levam-me a sentir cada vez mais a importância da obra que se começou a realizar aqui há 15 anos e que foi tão deploravelmente suspensa.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 28 de Novembro de 1954
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
«A famigerada Semana de Matemática realizou-se finalmente e é preciso dizer que se saíram bastante bem, muito melhor do que eu supunha. (…) Sei que lhe interessam notícias do Centro de Estudos Matemáticos e por isso lhas vou dar. (…) Os rapazes que comigo trabalham têm bolsas de 750 escudos… (…) Acresce que a surda hostilidade que recebo da Faculdade (…) e o facto de eu ter saído dali há quatro anos, por artes do diabo, afastam de mim a gente nova.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 28 de Novembro de 1954
«Até agora não tenho tido mais notícias do número da revista projectado, nem da semana de matemática. Se não se publica na revista não lhe parece que poderia ser publicado na Gazeta? (…) É uma boa notícia a visita do Köthe. Mande-me notícias do Centro de Estudos… (…) O Inst. de Mat. de Mendoza está em pleno funcionamento… (…) Este verão consegui resultados muito interessantes….» - carta de António Aniceto Monteiro para Sebastião e Silva, de 27 de Abril de 1954
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
«Deve ter recebido carta dos rapazes da Associação em que lhe falavam de mim. Tivemos em princípios de Novembro uma reunião em que se tratou do seu artigo... (...) Vamos iniciar no Centro de Estudos uma série de palestras… (…) O IAC decidiu convidar o G. Köthe… (…) Tenho esperanças de fazer vir cá também o Schwartz...» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 3 de Dezembro de 1953
«Só ontem, depois de ter terminado as minhas classes, redigi um artigo “Problemas da Cultura Matemática Portuguesa”, que enviei para a revista. (…) Em devido tempo mandarei para a Gazeta notícias sobre as actividades do Instituto no próximo ano.» - carta de António Aniceto Monteiro para Sebastião e Silva, de 16 de Outubro de 1953
-
Ver, neste blogue:
Problemas da cultura matemática portuguesa
Problemas da cultura matemática portuguesa
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
«Em Paris, no seminário do Schwartz, encontrei um argentino que me falou com entusiasmo e simpatia da sua obra organizadora na Argentina e do muito que é ali apreciada. (…) Estive 15 dias em Paris e um mês e tal na Alemanha...» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 9 de Agosto de 1953
«O que será quase certo é a publicação de um número especial de Ciência em Outubro, que é o ponto que nos interessa. Qualquer dos assuntos a que faz referência – “A decadência da cultura matemática em Portugal, seu atraso crescente em relação ao movimento matemático internacional” e “Problemas actuais da cultura matemática portuguesa” – parece-me de palpitante interesse.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 9 de Agosto de 1953
domingo, 10 de dezembro de 2017
«Mal chegou a Lisboa uma das suas primeiras preocupações foi a de projectar, de colaboração comigo, a criação do Instituto de Matemática, o velho sonho que o Doutor Monteiro teria transformado em realidade se tivesse permanecido entre nós. Devo dizer-lhe que, há um ano, foi ressuscitado o Centro de Estudos de Lisboa, tendo eu sido encarregado de orientar alguns rapazes em Análise Funcional. (…) Desejava ainda comunicar-lhe que casei em Setembro de 51.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 8 de Fevereiro de 1953
sábado, 9 de dezembro de 2017
«Como sabe, estou em Agronomia, o que deve tê-lo surpreendido. Com o doutoramento e com as complicações da minha vida o meu sistema nervoso foi-se abaixo. (…) Eu sabia que se manobrava na sombra. (…) Devo confessar-lhe que o meu primeiro dia de aulas em Agronomia me fez sentir o sabor amargo da derrota. Eu ali não posso fazer discípulos: é apenas o ganha-pão.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 8 de Fevereiro de 1953
«O pior é que, depois de regressar a Lisboa, fui apanhado nas rodas de uma engrenagem obsoleta, absorvido inteiramente pelos problemas do doutoramento e do concurso. (…) Mas o Köthe foi para mim de um cavalheirismo perfeito.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 8 de Fevereiro de 1953
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
«A M. Laura Mousinho esclareceu-nos um pouco mais acerca do que foi a sua acção no Rio de Janeiro e do ambiente que o rodeava. (…) Já na outra carta eu lhe dizia: a distância no tempo e no espaço tem-me levado a interpretar cada vez melhor as suas atitudes, a força do idealismo que o anima, a justeza dos seus pontos de vista, alguns dos quais, confesso, me chocaram a princípio.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 8 de Fevereiro de 1953
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
«Se eu conseguir manter-me aqui, creia que não pensarei apenas em mim: esforçar-me-ei, nos limites do possível, por dar continuidade à sua obra iniciada há dez anos e cuja vitalidade, apesar de tudo, tem sido muito superior ao que podíamos esperar. Pode dizer-se que Portugal só passou a existir, no domínio da Matemática, a partir da sua actuação.» - carta de Sebastião e Silva para António Aniceto Monteiro, de 22 de Setembro de 1949
Subscrever:
Mensagens (Atom)