segunda-feira, 6 de julho de 2009

“Eles foram de facto valores «sonegados» ao país” [Bento de Jesus Caraça]

Outra razão ainda, não menos forte, me leva a escrever esta carta. É a acusação extremamente grave que V. Ex.a faz aos antigos bolseiros do Instituto para a Alta Cultura.
No dizer de V. Ex.a, apesar das «extraordinárias facilidades» que se lhes proporcionaram, deles não surgiram os «trabalhos de valor positivo que impusessem os seus autores» e enfileiram hoje ao lado daqueles que «não realizaram trabalho útil ou porque o não quiseram ou não souberam produzir ou porque cometeram o crime de reservar para os seus partidos o que de direito pertencia à Nação», daqueles que «não exibem títulos à confiança do povo português – ou porque os não possuem, ou porque os sonegaram».
Estamos assim em face de uma situação singularmente pitoresca – a de um conjunto de homens, entre os quais antigos bolseiros, que, ou são incapazes ou, não o sendo, se dedicaram à tarefa diabólica de sonegar os seus próprios títulos, de reservar os seus trabalhos para os seus partidos. Espectáculo, na verdade, singular – este, que trabalha em matemática, vá de sonegar uns teoremas da teoria dos conjuntos e enterrá-los em segredo nos cofres do partido X; aquele, que se dedica à Física Atómica, sonega resultados sobre a desintegração do núcleo e leva-os em não menor segredo para as arcas secretas do partido Y. Quem sabe mesmo se nalguma cave bafienta e soturna do partido Z, não estava já há muito tempo sonegada a bomba atómica... E por toda a parte, nas posições estratégicas da ciência, da arte, da filosofia, etc., etc., uns cidadãos sinistros sonegam para os partidos! tudo a sonegar. Que magistral panorama da nossa vida cultural, V. Ex.a conseguiu traçar – o panorama da universal sonegação! Ah! Ramalho Ortigão!
Sr. Sub-Secretário de Estado eu não sou nem fui bolseiro do Instituto para a Alta Cultura: sou talvez um «sonegador» embora sem a agravante de ter usufruído das «extraordinárias facilidades». Não sou nem fui bolseiro e não tenho procuração de nenhum deles para o defender, nem eles necessitam de quem os defenda. Mas há entre eles dois homens que não podem agora defender-se porque não estão em Portugal. Dois homens que são dos maiores valores intelectuais da sua geração – José Rodrigues Migueis e António Aniceto Monteiro.
Dois homens que foram bolseiros e quiseram dar honestamente ao seu país os frutos do seu trabalho e da sua capacidade; dois homens que o Estado não aproveitou, a quem não criou as mínimas condições de trabalho: dois homens que através das maiores dificuldades materiais lutaram heroicamente para poderem dar ao seu país, tudo aquilo de que eram capazes. José Rodrigues Migueis, esse querido e generoso Migueis, especializado na Bélgica em reeducação de crianças anormais, não conseguiu em Portugal, mais do que um lugar numa instituição particular onde lhe pagavam 400 escudos por mês. A António Aniceto Monteiro, matemático brilhante, doutor pela Sorbonne, não foi dado, como situação pública, mais que um lugar de assalariado do Instituto para a Alta Cultura para catalogar revistas!
Estes dois homens acabaram por ter de sair de Portugal, em procura de condições de vida e de trabalho. A respeito deles aplica-se com toda a justiça a palavra «sonegação». Eles foram de facto valores «sonegados» ao país. Por quem? pelos partidos?
Se V. Ex.a se tivesse previamente informado do que é a vida intelectual e material dos estudiosos do seu país, da atmosfera de dificuldades em que por vezes eles vivem, estou em crer que não teria lançado a monte, para cima daqueles que nobremente se lhe opõem em luta de ideias, a acusação indiscriminada de incapazes ou de desonestos. Ou seremos nós já tão irremediavelmente infelizes que não possamos fazer justiça aos nossos adversários?

Bento de Jesus Caraça: [Segunda e última parte da] Carta aberta ao Subsecretário de Estado das Corporações.

sábado, 27 de junho de 2009

Almoço de homenagem a Mira Fernandes no IST em 16 de Junho de 1954 pelo seu jubileu

Digitalização de Jorge Rezende
À memória de Maria Adelaide Mira Fernandes

quinta-feira, 11 de junho de 2009

SUMMA BRASILIENSIS MATHEMATICAE: A INFLUÊNCIA DE MONTEIRO NO BRASIL



Após a Revolução de 30, profundas transformações ocorreram na Educação no Brasil. A atuação dos Pioneiros da Escola Nova – em especial Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira – ocasionou a criação da Universidade do Distrito Federal (UDF), posteriormente Universidade do Brasil (UB), atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Uma das conseqüências da UDF foi a vinda de vários cientistas de renome da Europa (principalmente da Itália) e dos Estados Unidos. Um desses cientistas foi o matemático português António Aniceto Monteiro, que imediatamente atua de forma intensa para a divulgação entre os brasileiros do que havia de mais recente em matemática. Junto com um grupo de matemáticos liderados por Lélio Gama e Leopoldo Nachbin, funda, em 1945, a Summa Brasiliensis Mathematicae, a primeira revista de Matemática Superior, no Rio de Janeiro, com projeção internacional. Colaboraram com artigos para a Summa figuras importantes para as gerações atuais como Maurício Mattos Peixoto, Jean Dieudonné, Leopoldo Nachbin, Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, Mário Schönberg, Paul Erdös, Paul Halmos, dentre outros. Este trabalho pretende mostrar como se deu o surgimento da Summa; a produção científica de António Monteiro em Portugal; suas dificuldades de convivência com o regime político adotado por António Salazar, culminando na sua vinda para o Rio de Janeiro; sua valiosa contribuição para o desenvolvimento da Matemática no Brasil e comentar alguns resultados atuais em Matemática que tiveram relação direta com artigos da Summa.
Palavras-Chave: História da Matemática no Brasil, Pesquisa Matemática no Rio de Janeiro; Summa Brasiliensis Mathematicae e António Aniceto Monteiro.
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domingo, 31 de maio de 2009

102 anos


António Aniceto Monteiro no Rio de Janeiro. O desenho é de Arpad Szenes.
© Família de António Aniceto Monteiro

Homenagem no Colégio Militar

No dia 16 de Dezembro de 2008, o Colégio Militar recebeu a visita do Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (Prof. Doutor Nuno Crato) e do Vice-Presidente da mesma Sociedade, Prof. Doutor Miguel Tribolet de Abreu.
Ler o restante da notícia aqui.