domingo, 30 de setembro de 2012

Desenho do tenente António Ribeiro Monteiro: Cavalos

© Família de António Aniceto Monteiro

Este desenho foi feito, provavelmente, em Mossâmedes, no sul de Angola; seguramente, antes de 7 de Julho de 1915. 
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(...)
Os animais eram muito utilizados e, para o transporte de militares, os cavalos eram o meio preferido e, até, imprescindível.
(...)
Ao ler estas quatro páginas manuscritas que elogiam o alferes Monteiro, é difícil não ver nos traços de carácter descritos, aqueles que viriam a ser os do seu filho, António Aniceto: a grande inteligência, a versatilidade e a amplidão das suas aptidões intelectuais, o sentido prático aliado à competência teórica, a capacidade de comunicação e transmissão dos seus conhecimentos, a simpatia e a coragem.
(...)
 
A estas linhas, escritas em 2007, poderíamos agora acrescentar que, também, na capacidade gráfica, na habilidade para o desenho, pai e filho se assemelham, como se pode ver aqui:
 
Ver ainda:
Memórias do Capitão (no sul de Angola em 1915): A FERRO E FOGO (3)

sábado, 29 de setembro de 2012

Carta do Gabinete do Secretário de Estado da Investigação Científica (de 9 de Novembro de 1977)


 A letra destas notas é de Alfredo Pereira Gomes

(Escrito, em baixo, à direita, nas costas da carta)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O regresso de António Monteiro a Portugal de 1977 a 1979 (Alfredo Pereira Gomes)



 
O regresso de António Monteiro a Portugal de 1977 a 1979
Alfredo Pereira Gomes
 
Desde 1945, António A. Monteiro não voltara a pisar solo português, por um compromisso para consigo próprio face à posição obscurantista, adversa à livre criatividade científica e cultural do sistema que dominava a vida política e social portuguesa. Após o restabelecimento dum regime democrático em Portugal em 25 de Abril de 1974, era aspiração dos seus muitos amigos, antigos companheiros, discípulos e admiradores, que fossem criadas condições propícias ao seu regresso senão definitivo pelo menos suficientemente duradouro para que a nova geração de matemáticos o conhecesse e beneficiasse da sua personalidade ímpar de investigador e promotor de escolas de investigação. Alguns dos que com ele trabalharam antes de 1945, iniciámos diligências nesse sentido. Entretanto, impedimentos de ordem pessoal – designadamente a prisão de seu filho Luiz Monteiro, durante mais de quatro meses – fizeram obstáculo a esse desiderato. Somente no início de 1977 António A. Monteiro pôde voltar a Portugal, tendo aqui permanecido cerca de dois anos, como investigador do Instituto Nacional de Investigação Científica (I.N.I.C.), no Centro de Matemática e Aplicações Fundamentais (C.M.A.F.) das Universidades de Lisboa.
Há a registar que não foi simples o desenvolvimento do processo para lhe criar uma posição actuante, como investigador, dentro das estruturas vigentes universitárias ou de investigação científica, pouco adequadas ao ingresso de investigadores. Na correspondência com ele trocada desde Janeiro de 1976 a tal respeito, transparece a sua perplexidade e até algum cepticismo.
Finalmente, em Outubro de 1976, com o seu assentimento, foi dirigida ao Secretário de Estado de Investigação Científica uma exposição propondo a contratação de António A. Monteiro como investigador do I.N.I.C., a título excepcional e no escalão mais elevado, para dedicar-se exclusivamente à investigação e à difusão dos seus resultados. Esta exposição foi apoiada pelos professores de matemática das Universidades de Lisboa, Coimbra e Porto. Nela se fazia ressaltar que António A. Monteiro fora o matemático português que mais decisivamente tinha contribuído para a renovação dos estudos matemáticos em Portugal e que a sua obra de investigação e formação de discípulos tinha prosseguido em centros universitários estrangeiros com assinalado êxito. Afirma-se ainda a convicção de que a presença de António A. Monteiro em Lisboa contribuiria grandemente para dar aos estudos em Álgebra da Lógica o lugar de destaque de que carecia entre nós e para abrir uma via de investigação neste sector. Aquela proposta teve despacho favorável do Secretário de Estado, que na ocasião era um professor de matemática da Universidade de Lisboa.
A sua saúde frágil – obrigando-o embora a cuidados médicos e curtos períodos de repouso – não o impediu de desenvolver uma actividade intensa, iniciada logo após a sua chegada a Lisboa, com o entusiasmo e a pertinácia que sempre lhe conhecemos.
Quando no dia 31 de Maio o visitámos ao fim da manhã, encontrámo-lo alegre, triunfante. Contou-nos que se havia levantado cedo e que às nove horas tinha enfim encontrado a demonstração dum teorema de que se ocupava havia três meses: «é o meu próprio presente de aniversário», comentou. O septuagésimo! Nesta singela anedota pode sintetizar-se a sua personalidade de matemático.
Homem de cultura integral, o seu interesse não se confinava na investigação matemática e afirmava-se infatigavelmente na leitura de obras literárias, de história das ideias ou de sociologia. A nova Sociedade Portuguesa de Matemática recém-criada – fazendo reviver aquela de que ele fora Secretário-Geral desde 1940 – captou a sua atenção, e a sua intervenção foi decisiva, como fundador da Portugaliae Mathematica, para que esta revista se tornasse património dessa Sociedade, tornando assim possível a continuidade da sua publicação com novos editores e renovados apoios.
No C.M.A.F. das Universidades de Lisboa, dependente do I.N.I.C., criou uma linha de investigação em Álgebra da Lógica e proferiu conferências sobre os seus trabalhos, atraindo alguns discípulos, a quem propôs temas de investigação e prodigou conselhos. Daí resultaram notas publicadas em revistas da especialidade e duas teses de doutoramento.
A convite da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, aí proferiu três conferências em Julho de 1977, sobre «Álgebras de Boole cíclicas», «Álgebras de Nelson finitas e lineares», «Aritmética dos filtros em espaços topológicos».
Muito interessado pelas aplicações do seu domínio de investigação, manteve contactos com engenheiros e docentes do Instituto Superior Técnico de Lisboa, em cuja revista «Técnica» publicou um trabalho no número dedicado à memória de Aureliano de Mira Fernandes.
Apesar da longa lista de artigos publicados, certo é que, para António A. Monteiro, era bem menos atraente redigir os seus trabalhos do que ocupar-se de problematizar as suas conjecturas e encontrar as soluções. Por vezes nos falou disso e nos deu a ocasião de instar com ele para não adiar a divulgação dos seus resultados. Em carta de 5 de Junho de 1978, que nos enviou para Paris, escreve: «Hoje tomei finalmente uma decisão importante: suspender o trabalho de investigação e passar a redigir. Estou realmente cansado e penso que mais vale tarde que nunca. Ainda fiz outro trabalho depois que você saiu para Paris». E acrescentava:
«Estou realmente satisfeito com os resultados da minha actividade científica em Portugal. Isto deve-se sobretudo ao Centro de Matemática; (C. M. A. F.), que me proporcionou o tempo livre para estudar. Entretanto, creio que fiz um esforço superior às energias disponíveis na minha idade. Sinto que tenho de moderar a minha actividade. Fora isto, a única notícia suplementar é que ainda não fiz as conferências na Faculdade de Ciências de Lisboa, que propus no mês de Outubro; pela simples razão de que não as marcaram. Não há interesse ou não querem. Paciência! Não volto a insistir que já me dá vergonha. Darei este mês uma série de conferências na Faculdade de Ciências do Porto. A de Lisboa parece que não mudou muito com o tempo. O peso da tradição é uma força extraordinária. Nos 4 ou 5 anos que andei na Faculdade de Ciências como aluno, nunca ouvi falar de «conferências» de matemática. Se houve alguma não me lembro».
No verão desse ano, como incentivo para completar a redacção dos seus trabalhos, sugerimos a António A. Monteiro – de conivência com Lídia Monteiro, sua inigualável companheira – que concorresse, com o trabalho que começara a redigir, ao Prémio Gulbenkian de Ciência e Tecnologia 1978. Após curta hesitação prosseguiu essa tarefa, afincadamente, como em tudo o que empreendia. Quando terminou, pouco tempo antes do fim do prazo do concurso, disse para Lídia, displicentemente: «aí está, para te fazer a vontade e ao Pereira Gomes...». O Prémio foi-lhe conferido. Pode hoje pensar-se que mais importante foi porém a motivação que ele constituiu para António A. Monteiro contrariar o seu gosto prioritário pela investigação e ter dado forma a essa obra, «Sur les Algèbres de Heyting Symétriques», que, neste volume em sua homenagem, se publica.
Cremos caber aqui uma palavra de homenagem que também é devida a sua esposa, pela constante dedicação nas boas e más horas duma longa vida comum e pela lúcida e carinhosa compreensão das exigências dum trabalho científico absorvente e apaixonado como era o dele. Cremos que essa presença solícita foi de grande significação para que – através de tantas vicissitudes que povoaram a vida de ambos – António A. Monteiro tivesse conseguido dar realização plena à sua vocação e ao seu talento.
De regresso a Bahía Blanca a ligação com o C.M.A.F. e as actividades matemáticas de Lisboa não se desvaneceram. Mostra-o a correspondência que manteve com alguns amigos ou discípulos daqui, cartas longas e de grande interesse, onde se refere, simultaneamente, por vezes, às situações de Lisboa, às investigações matemáticas, aos seus discípulos argentinos que de novo vêm ao seu encontro e a quem continua a encorajar e a propor temas de trabalho matemático.
Em carta que nos dirigiu em 31 de Maio de 1979, encara a perspectiva de voltar a Portugal, embora com hesitações. Menciona um período de doença aguda ultrapassada, para acrescentar: «Comecei de novo a levantar-me às 4 ou 5 da manhã para trabalhar. São tão lindos os temas sobre os quais estou trabalhando, que não quero perder tempo». E descreve-os pormenorizadamente em 4 páginas de letra cerrada.
A 5 de Dezembro do mesmo ano: «A grande notícia que me manda é que parece ter conseguido subsídios para publicar a Portugaliae Mathematica de 77, 78 e 79. Seria realmente muito importante que isso se faça». E mais adiante: «...começo a perguntar o que posso eu fazer em Portugal. Neste momento [sublinhado] eu estou convalescente, não posso regressar. Creio que o que têm a fazer é eliminar-me dos quadros do C.M.A.F. e depois veremos». Termina a carta com um «post-scriptum»: «Avante com a Portugaliae Mathematica».
Em 17 de Setembro de 1980 – mês e meio antes de falecer – diz-nos a sua preocupação com o seu estado de saúde. E comenta: «A única coisa que fiz durante este largo período foi escrever à Isabel Loureiro [cuja tese de doutoramento começara a orientar em Lisboa] sobre o seu trabalho, o que fiz com muito esforço e sacrifício. Foram 52 páginas de matemática». E a seguir: «O objectivo principal desta carta é congratular-me com as excelentes notícias que manda sobre a Portugaliae Mathematica. (...) Faltaria resolver o problema da Gazeta [de Matemática] que deveria entregar tudo à Sociedade Portuguesa de Matemática».
Comovidamente pensamos que, não fora a sua saúde muito precária, ele teria regressado à terra da sua juventude, onde as suas iniciativas constituíram, e permanecem, as linhas mestras do desenvolvimento matemático deste país. Apesar das fortes amarras que o prendiam à Argentina, pelos elos familiares e pelo amor à Escola Matemática que ali criou.

Telegrama do Secretário de Estado da Investigação Científica (Tiago de Oliveira) de 26 de Novembro de 1976


Ver:
O regresso de António Monteiro a Portugal de 1977 a 1979
Pereira Gomes, A.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

«Foi tirada em casa, pelo António, com a nossa máquina»


Agradecimentos ao Eng. Edgar Ataíde por estas e outras imagens
Digitalização de Jorge Rezende
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Postal de Lídia Monteiro para a irmã de António A. Monteiro, Maria de Lourdes Coutinho (Dezembro de 1935 (?))
A fotografia deste postal é a primeira em

Sur les berges de la Seine, Paris, années 1930

Photo: António Aniceto Monteiro
© Família de António Aniceto Monteiro

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Lídia Monteiro, por Arpad Szenes

Rio de Janeiro, anos 40
© Família de António Aniceto Monteiro

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Perguntado sobre a evolução das ciências matemáticas em Portugal, disse o prof. Monteiro que «o caminho dos matemáticos portugueses é emigrar. Isto é o que se observa» Agora, vêm eles para o Brasil, onde encontram uma segunda pátria. Não seria este, certamente, o desejo desses matemáticos se tivessem o auxílio que merecem».


Declarações do prof. Aniceto Monteiro

Encontra-se no Rio de Janeiro, a convite do Centro Brasileiro de Pcsquisas Físicas, o ilustre matemático português, prof. António Aniceto Monteiro. À sua chegada, em meados de dezembro, à capital federal, o ilustre cientista fez as seguintes declarações à imprensa:
«Não existe o intercâmbio luso-brasiletro. Portugal envia para o Brasil pessoas escolhidas por critério de ordem política, gente que não representa a inteligência portuguesa o que só serve, em geral, para aumentar o repertório do anedotário sobre os portugueses.
A lista dos intelectuais lusitanos perseguidos pelo fascismo é imensa, isto porque a inteligência portuguesa se mantém ao lado do povo, na luta contra o regime, que asfixia o país há 33 longos anos».
«Os alunos da escola primaria do meu país vestem, obrigatoriamente, o uniforme verde dos «lusitos» e os da escola secundaria o uniforme castanho da mocidade portuguesa. São obrigados a desfilar de mãos estendidas à fascista e marcham a passo do ganso. E os professores universitários são expulsos das suas cátedras, por manifestarem sua oposição ao regime asfixiante».

Cultura desenvolve-se em democracia
O prof. António Anitceto Monteiro veio ao Brasil, eomo acima dissemos, a convite do Centro Brasileiro do Pesquisas Físicas, instituição da qual é fundador, Já lecionou na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, de 1945 a 1948. Atualmente entá radicado na Argentina, contratado pela Universidade do Sul, para organizar um Instituto de Matemática. Tem 52 anos, nasceu em Mossamedes, na colônia portuguesa de Angola. Ê licenciado em Ciências Matemáticas pela Universidade de Lisboa e dou-tor pela Sorbonne; membro correspondente da Academia Brasileira de Ciências, laureado pela Academia de Ciências de Lisboa com o Prémio Artur Malheiros.
«Preciso falar de política, porque o desenvolvimento da cultura só é possível quando existem as liberdades democráticas fundamentais» — declarou o prof. Antônio Monteiro. — «A maior riqueza de um país, são as imensas reservas de inteligência existentes nas amplas camadas populares, que só podem revelar-se numa atmosfera de progresso».

Matemáticos emigram
Perguntado sobre a evolução das ciências matemáticas em Portugal, disse o prof. Monteiro que «o caminho dos matemáticos portugueses é emigrar. Isto é o que se observa» Agora, vêm eles para o Brasil, onde encontram uma segunda pátria. Não seria este, certamente, o desejo desses matemáticos se tivessem o auxílio que merecem».

Censura
Disse, mais, que «em Portugal não existe nenhuma liberdade democrática fundamental». «Eu nunca votei em meu país. Os jornais estão submetidos à censura».
O prof. Antônio Aniceto Monteiro concluiu suas declarações lembrando a figura de Tiradentes, «exemplo que ilustra a ferocidade manifestada pela reação portuguesa, sempre que governou o país. Tiradentes deve estar sempre presente no espirito dos portugueses que desejam um Portugal livre e independente» — concluiu.

Artigo do «Portugal Democrático», nº32, 1960.
O documento aqui reproduzido consta do Processo 558/67-SR, NP-3577 (folha 40), do Arquivo da PIDE/DGS, relativo a António Aniceto Monteiro, existente na Torre do Tombo (IAN/TT).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

RELATÓRIO sobre a situação do Doutor António Monteiro de Lisboa (Guido Beck, 19 de Maio de 1944)


RELATÓRIO
Sobre a situação do Doutor António Monteiro de Lisboa
 
Eu, abaixo-assinado, Prof. Dr. Guido Beck, tendo tido ocasião de conhecer a situação do Doutor António Monteiro em Lisboa durante a minha actividade em Portugal no decorrer do ano académico de 1942 e tendo tido, de seguida, ocasião de me ocupar do caso desse jovem sábio de talento excepcional, tenho a honra de declarar o que se segue:
1.° O Sr. António Monteiro é um jovem matemático português, que, depois de ter feito os seus estudos em Paris sob a direcção do Sr. Maurice Fréchet, soube atrair, pelos seus trabalhos de pesquisa, a atenção geral dos círculos universitários do seu ramo. O valor excepcional dos seus trabalhos sobre a teoria dos espaços abstractos foi-me confirmado pelo Sr. Maurice Fréchet (Paris) e pelo Sr. J. v. Neumann (Princeton, N. J.)
2.° Tendo ensinado ao mesmo tempo que o Sr. Monteiro, em Novembro de 1942, na Universidade do Porto, tive, eu mesmo, ocasião de seguir um dos seus cursos e de me aperceber das suas altas qualidades como professor e como investigador. Além disso, verifiquei, em Lisboa, que o Sr. Monteiro teve a iniciativa de fundar, com menos de 35 anos de idade, uma escola muito prometedora de jovens, dos quais um, o Sr. Hugo Ribeiro, é já bem conhecido entre os matemáticos e trabalha actualmente na Escola Politécnica (E.T.H.) em Zurique (Suíça).
3.° Pude aperceber-me que é, sobretudo pelo mérito pessoal do Sr. António Monteiro, que Portugal dispõe actualmente de um periódico de matemática moderna, a «PORTUGALIAE MATHEMATICA» que figura entre as revistas mais consultadas desse ramo da ciência. A organização da investigação científica noutros ramos, particularmente em física, foi muito influenciada e facilitada em Portugal pela actividade do Sr. Monteiro.
4. ° O Sr. António Monteiro conseguiu alcançar estes resultados espantosos apesar de dificuldades consideráveis. O êxito da sua actividade só foi possível devido à dedicação extraordinária e desinteressada pela investigação e por um certo apoio por parte de alguns meios universitários portugueses e do «Instituto para a Alta Cultura» em Lisboa que lhe tinha assegurado uma modesta situação como empregado na biblioteca do Instituto de Matemática da Faculdade das Ciências.
5.° Dado que as universidades portuguesas não estão em condições de oferecer ao Sr. Monteiro uma situação correspondente às suas capacidades e possibilidades adequadas ao aproveitamento do seu talento com pleno rendimento, M. v. Neumann, professor na Universidade de Princeton (U.S.A.), está empenhado, desde há vários anos, em chamar a atenção para o caso do Sr. Monteiro nos meios científicos no Brasil, indicando ao mesmo tempo, que o Sr. Albert Einstein (actualmente em Princeton) estava disposto a apoiar todas as diligências a favor do Sr. Monteiro.
6.° Dado o facto, que a inactividade cientifica do Sr. Monteiro representa uma perda real para a investigação em matemática e, em particular, uma perda insubstituível para a contribuição dos países ibéricos na matemática contemporânea, o Senhor Professor G. Wattaghin da Universidade de São Paulo e eu próprio esforçámo-nos, após a minha chegada à América há um ano, em encontrar uma situação apropriada para o sr. Monteiro, de preferência num pais de língua portuguesa. Tivemos a felicidade de encontrar o benévolo apoio do Sr. Director da Faculdade Nacional de Filosofia no Rio de Janeiro e o Sr. António Monteiro foi designado titular da cadeira de Matemática Superior na dita Faculdade, com a aprovação do Ministério da Educação Nacional no Rio de Janeiro. O Sr. Monteiro aceitou as condições que lhe foram propostas por intermédio da Embaixada do Brasil em Lisboa e recebeu a ordem, por parte desta, para que se aprontasse para uma partida imediata em Outubro último. Tendo vendido a sua casa e tendo preparado tudo para a sua partida próxima, aguarda, actualmente no Porto, com a sua família em condições extremamente penosas.
Dada a situação extremamente difícil do Sr. António Monteiro devido ao atraso da ordem definitiva a dar à Embaixada do Brasil em Lisboa para facilitar a sua partida, tomo a liberdade de me dirigir a Sua Excelência, Senhor Ministro da Educação Nacional no Rio de Janeiro solicitando, com o apoio dos homens de ciência abaixo-assinados, que Vossa Excelência se digne usar a sua influência para assegurar uma continuação próxima dos trabalhos preciosos do Doutor António Monteiro dando as instruções necessárias relativas à viagem do Sr. Monteiro e da sua família.
Córdoba (Argentina), 19 de Maio de 1944.
Guião Beck m.p.

Nós, abaixo-assinados, tendo tomado conhecimento do relatório acima sobre a situação do Sr. António Monteiro em Lisboa, apoiamos calorosamente todas as iniciativas tendentes a assegurar as facilidades indispensáveis para a continuação a curto prazo dos trabalhos de investigação deste jovem sábio português:
E. Gaviola (Córdoba) m.p.
J. Rey Pastor (Buenos Aires) m.p.
B. Levi (Rosário) m.p.
A. Terracini (Tucumán) m.p.
M. Balanzat (San Luís) m.p.

sábado, 8 de setembro de 2012

1942: O ano das demissões de Celestino da Costa


Dr. Celestino e meu caro amigo
Soube pelo Corino do novo «incidente», e soube também — o que, de resto, estava previsto —, que se trata de uma nova amabilidade coimbrã que lhe não perdoa o famoso discurso1. Assim, pela força natural das coisas, ei-lo armado em chefe das hostes anticoimbrãs. E cá nos tem nas filas de combatentes. Pelo menos os campos defi­nem-se e um dia se verá...
(...)
Cumprimentos do velho amigo e admirador
salazar
1  Em 1942 Celestino da Costa disse num discurso na Câmara de Lisboa que esta, e não Coimbra, era a capital cultural do país. Isto originou reacção da Universidade de Coimbra que levou o ministro Mário de Figueiredo, oriundo da sua Faculdade de Direi­to, a demiti-lo de director da Faculdade de Medicina de Lisboa e de presidente do Instituto de Alta Cultura.
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Ver excerto da carta seguinte, aqui:
«venho neste momento exprimir-lhe a minha velha camaradagem»: carta de Abel Salazar a Celestino da Costa de 1942
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Prof. Celestino e meu caro amigo
A impressão produzida pelo caso da Alta Cultura é cada vez mais penosa. Amigos, inimigos e indiferentes são unânimes em reconhecer que esta mudança foi um desastre. O Tavares é um homem trabalha­dor, mas não tem nem a cultura, nem a larga experiência, nem o largo contacto e conhecimento dos meios científicos que o Prof. Celestino possui. A tudo isto acresce que o Cordeiro Ramos é um homem sem categoria intelectual nem moral. A todos os respeitos, um desastre. Dizem que o facto foi devido a uma vingança de Coimbra por causa de algumas frases no seu discurso da Câmara. Isto junto a um movi­mento germanófilo. Se assim foi, o retorno ofensivo de Coimbra é a mais completa justificação das suas frases e a descida moral e intelec­tual da Alta Cultura adquire um significado quase simbólico.
(...)
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Ler, ainda:
O Centro de Estudos Matemáticos do Porto numa carta de Abel Salazar a Celestino da Costa de 1942, ano da fundação do CEMP 
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Tudo reproduzido do livro, que se recomenda vivamente:
(Abel Salazar - 96 cartas a Celestino da Costa)
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Nota: Em 1942, Celestino da Costa viria a ser substituido no Instituto para a Alta Cultura por Gustavo Cordeiro Ramos (salazarista, hitlerófilo e germanófilo).
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Ver:

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

«por iniciativa do Ministro da E. Nacional, os seus serviços foram dispensados» (Carta de Bento de Jesus Caraça a Guido Beck, 1942)

Manuscrita (francês)
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13 de Dezembro de 1942
(...)
Sobre o assunto do Monteiro, infelizmente as notícias não são boas.
[ilegível] sabe que, por iniciativa do Ministro da E. Nacional, os seus serviços foram dispensados e, sendo assim, acredito que se possa resolver a sua situação no Brasil, caso ele o queira.
E o seu fígado ?
Espero que já esteja completamente restabelecido
saudações amigas
(Bento de Jesus Caraça)
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Esta carta é a resposta, de Bento de Jesus Caraça, a outra, de Guido Beck, enviada do Porto:

Dactilografada (francês)
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7 de Dezembro de 1942
(...)
Tenho um pedido para si. R. L. Gomes contou-me as dificuldades que Monteiro actualmente atravessa. Não temos notícias sobre este assunto desde então. Há esperança que a situação se resolva ainda por mais algum tempo? Peço-lhe que me informe se eu posso fazer ou tentar o que quer que seja para que se faça alguma coisa.
(...)
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Copiado de

terça-feira, 4 de setembro de 2012

«Se não conseguirmos criar um movimento forte contra esta política, essa gente não vai parar. É preciso que o maior número possível de escolas e de cientistas protestem publicamente contra a perseguição dos homens de ciência de Portugal. É um dever de solidariedade para qualquer homem de ciência e um dever político para um antifascista.» (Carta de António Aniceto Monteiro a Guido Beck, 1947)

Manuscrita (francês)
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Rio, 19 de Junho de 1947
Meu caro amigo: Agradeço-lhe infinitamente as suas cartas de 13 e 14 deste mês. Recebi o envelope com os cr. $2.500,00 que enviou por intermédio do Albert, com muitos abraços e saudades. Agradeço-lhe. Vejo que você paga as suas dívidas, o que continua a ser um fenómeno extraordinário na época actual.
Deve conhecer, já, o que se passou em Portugal nestes últimos dias: 21 professores e assistentes da universidade foram expulsos. Em algumas especialidades foi um desastre. Em física, por exemplo; Valadares, Marques da Silva e Gibert! Penso que é preciso agir rapidamente para salvar esses cientistas.
Acabo de receber hoje uma carta de Flávio Resende, que era professor de Botânica da Faculdade de Ciências de Lisboa. É um dos nossos melhores botânicos. Ele estudou na Alemanha, durante 5 ou 6 anos. Há pessoas que o conhecem, em São Paulo, segundo o que ele diz: «Toledo de Piza da Escola de Agricultura, Luís de Queiroz e [Pavana] creio que do Instituto de Biologia de S. Paulo.»
É o primeiro apelo que recebo: ele pede-me para fazer qualquer coisa por ele. Começo por lhe escrever esta carta, para entrar em contacto com dois biólogos. Combine com Schenberg para eles o visitarem no seu Hotel. Penso que você não tem tempo para os procurar.
Por outro lado é necessário examinar a fundo as possibilidades de São Paulo para o caso de Valadares, Marques da Silva e Gibert. Peco-lhe que examine esta questão com Dami e Schenberg. Não será possível publicar em São Paulo um manifesto contra a demissão dos universitários portugueses, assinado pelos cientistas de São Paulo?
A situação, em Portugal, torna-se cada vez mais grave. Creio que é caso para se criar um Comité de Ajuda aos Cientistas Portugueses, com delegados em diferentes países. Coloquei o problema aqui e espero encontrar uma solução no prazo de uma semana. O que pensa você e Schenberg desta ideia? É necessário não apenas gritar contra todas estas perseguições mas também tentar ajudar as pessoas que tendo consagrado toda a sua vida à investigação, não têm mais a possibilidade de continuar os seus trabalhos dado que foram interditos de ter qualquer actividade pública. É um escândalo. Segundo um telegrama de hoje, Ruy Gomes também foi expulso por ter protestado contra a intromissão da polícia nos assuntos da universidade. Se não conseguirmos criar um movimento forte contra esta política, essa gente não vai parar. É preciso que o maior número possível de escolas e de cientistas protestem publicamente contra a perseguição dos homens de ciência de Portugal. É um dever de solidariedade para qualquer homem de ciência e um dever político para um antifascista.
O Comité de Auxílio aos Cientistas Portugueses em que falo acima deve ser na realidade um Comité de auxílio, que faça um trabalho paralelo mas independente do trabalho político. Estava a escrever em português, volto ao francês! Isso parece-me indispensável se queremos ser eficazes, ou seja se queremos, eficazmente, ajudar as pessoas em situação difícil. O Comité procuraria colocar as pessoas em qualquer país. O seu objectivo seria evitar que os investigadores em situação difícil sejam obrigados a interromper as suas actividades científicas. É um dever de solidariedade a cumprir. Pedi os curricula dos professores expulsos.
Depois poder-se-ia escrever a várias universidades de ajuda à pesquisa etc. Mas parece-me indispensável ter cientistas de prestígio no Comité. Estude as possibilidades em São Paulo. Quais são os cientistas indicados e dispostos a pertencer a este Comité. Escreva-me sobre esta questão o mais rapidamente possível.
Abraços para todos e para si do
(António Monteiro)
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Copiado de

Problemas da cultura matemática portuguesa


Problemas da cultura matemática portuguesa
António Aniceto Monteiro
(Professor da Universidade de San Juan, Argentina)


A caracterização da situação actual da cultura matemática portuguesa, o averiguar seus problemas fundamentais, determinar suas contradições, fracassos e debilidades, o determinar suas realizações e fundamentar suas esperanças, constitui um importante problema de carácter nacional. Trata-se de um problema de carácter nacional porque é um problema da cultura científica portuguesa e porque interessa o desenvolvimento da economia, o bem-estar social da população e a independência do país. Trata-se portanto de um problema de grande complexidade para o exame do qual se necessita da cooperação de um número considerável de estudiosos.
Uma das principais características da cultura matemática portuguesa é o seu atraso crescente em relação ao movimento matemático internacional, e é claro que esta situação é compatível com o desenvolvimento interno, mais ou menos lento, dessa cultura.
É de uma grande importância para o país a existência de estudiosos treinados nos métodos modernos do pensamento matemático, porque são susceptíveis de ser aplicados à resolução de variados problemas especiais que se apresentam em todos os sectores da vida. Trata-se de métodos potentes e fecundos de análise que podem conduzir o homem a conhecer a natureza para dominá-la e transformá-la em seu proveito e na perseguição de um tal objectivo o próprio homem necessariamente se modifica, como parte integrante da natureza.
Esta oposição entre o atraso crescente da cultura matemática portuguesa e a necessidade imperiosa do seu desenvolvimento rápido constitui um dos dados objectivos mais importantes do problema em estudo.
Os principais órgãos de difusão da cultura são as escolas superiores e é importante constatar que seus programas actuais de estudo não correspondem às necessidades do momento, devendo mencionar-se especialmente a organização da licenciatura em ciências matemáticas e as características dos respectivos doutoramentos. Nenhuma verdadeira vocação matemática pode deixar de ser diminuída perante uma tal orgânica de estudos, cristalizada em forma estável há dezenas de anos.
Os esforços que realizam alguns professores não alteram a situação de conjunto de tal licenciatura caracterizada por um conjunto rígido de cátedras de estudo obrigatório, com programas mais ou menos fixos, tudo sem nenhuma elasticidade, rígido e imóvel, sem contemplações pelas novas disciplinas que se vão criando e desenvolvendo. A tudo isto se deve agregar uma indiferença quase geral pelo pensamento original que se dissolve num ambiente hostil e sem estímulo, de onde resulta a ausência de bibliotecas matemáticas adequadas para o trabalho científico e de uma carreira para a investigação científica que encoraje as vocações.
Este panorama geral não sofre alterações, mesmo quando tivermos em conta certos factores construtivos:
– A actuação daqueles professores que, com o condicionamento referido, desenvolvem seus esforços com o objectivo de modificar a situação existente, dando o exemplo inestimável de uma vida dedicada ao estudo e ao ensino.
– A actividade do Instituto para a Alta Cultura que desde 1929 – quando se concretizou a sua criação, resultante de um vasto movimento de opinião que durou vários anos e que apontava o exemplo da Junta de Investigações Científicas de Madrid – tem fomentado o desenvolvimento dos estudos com a concessão de bolsas no estrangeiro e no país, criação de centros de estudo, subsídios a publicações, bibliotecas e laboratórios.
– O extinto Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa, dependente do I.A.C., dirigido pelo saudoso professor Pedro José da Cunha com exemplar independência e seu grande carinho pelo desenvolvimento da matemática portuguesa, que encorajou um grupo de jovens a iniciar-se no trabalho de investigação.
– O extinto Centro de Estudos Matemáticos do Porto, dependente do I.A.C., dirigido pelo distintíssimo matemático Ruy Luís Gomes, a quem a cultura matemática portuguesa deve inestimáveis serviços e numerosas iniciativas. Constituía uma das maiores esperanças do movimento matemático português, com a sua eficiente orientação.
– A Portugaliae Mathematica e a Gazeta de Matemática, cuja publicação se deve à abnegação do Dr. Manuel Zaluar Nunes, a quem a cultura portuguesa fica devendo um exemplo do mais honroso merecimento e extremo valor – tem exercido conhecida influência no ambiente português e destacada repercussão internacional.
– A Junta de Investigação Matemática, que sob a direcção do ilustre matemático Aureliano de Mira Fernandes e de Ruy Luís Gomes, reúne estudiosos com o objectivo de fomentar os estudos matemáticos e promove publicações importantes, é uma chama em que vivem as esperanças de todos os que querem o florescimento da nossa cultura matemática.
Todas estas actividades, algumas das quais se interromperam por motivos extra-científicos com o consequente debilitamento da nossa cultura científica, constituem um destacado esforço de um pequeno número de estudiosos, para fomentar o desenvolvimento da investigação matemática, e se devemos reconhecer o merecimento de tão nobres actividades que alentam esperanças com fundamento, não devemos deixar de reconhecer que o panorama geral anteriormente referido se mantém, porque a direcção estratégica dos nossos estudos universitários não sofreu alterações.
Em nossa opinião, um dos problemas mais importantes da cultura matemática portuguesa é o da REFORMA DOS ESTUDOS MATEMÁTICOS. Seria necessário alterar substancialmente o quadro das disciplinas, a orgânica, a orientação dos estudos, os critérios da selecção e promoção do pessoal científico. Uma obra desta natureza não se improvisa, antes se prepara meticulosamente em artigos, debates, conferências e sobretudo com a formação de jovens investigadores com capacidade necessária para conduzir a cultura matemática portuguesa a um nível de tal natureza que a orgânica actual não possa subsistir. Sobre este ponto de vista os elementos construtivos a que nos referimos anteriormente têm desempenhado um papel fundamental, porque contribuíram, e continuam contribuindo, para a criação do ambiente geral em que as condições objectivas tornam possível e inevitável a transformação necessária. Podemos afirmar de um modo geral que a reforma dos estudos matemáticos é antes uma batalha em curso, do que uma batalha travada. Todos os insucessos devem ser considerados como temporários.
Creio que é de uma grande importância difundir a ideia de que toda a verdadeira reforma é o resultado de um esforço continuado e persistente, realizado por numerosos indivíduos, para atingir objectivos claros e bem definidos. A nossa juventude estudiosa tem, portanto, sobre os seus ombros uma pesada tarefa a realizar, e como os jovens estudantes de hoje serão os mestres de amanhã, neles devem residir todas as nossas esperanças e todas as nossas certezas.
Todos os esforços devem assim ser centralizados na preparação da juventude estudiosa para a investigação científica e para tal efeito é necessário criar a instituição que tenha esse objectivo específico.
Somos assim conduzidos a pensar que o problema principal do momento consiste na criação de um INSTITUTO PORTUGUÊS DE MATEMÁTICA que se dedique fundamentalmente à realização de trabalhos de investigação matemática e ao ensino da investigação matemática.
Esse Instituto deveria reunir o maior número possível de matemáticos portugueses com reconhecida capacidade para as tarefas referidas, seleccionados de acordo com o seu curriculum, e por ele deveriam ser contratados, em forma permanente ou temporária, especialistas estrangeiros que se tenham distinguido na formação de discípulos (sobretudo nos ramos de matemática que não são cultivados em Portugal). Ao mesmo tempo deveria ser criada uma carreira de investigador científico, com as respectivas promoções realizadas de acordo com os trabalhos de investigação publicados, e concedidas numerosas bolsas aos estudantes diplomados pelas Universidades e com vocação matemática.
Neste Instituto se formaria toda uma geração de estudiosos, de onde a Universidade deveria recrutar, no futuro, os seus quadros científicos. Se a criação de uma instituição da natureza que acabamos de indicar é de uma importância vital para o futuro da matemática portuguesa, e constitui uma velha aspiração do ambiente matemático português, não deixam de existir outras tarefas de grande importância como sejam a subsistência da Portugaliae Mathematica, da Gazeta de Matemática e das Publicações da Junta de Investigação Matemática, que se torna necessário assegurar por todas as formas.
A transformação da Sociedade Portuguesa de Matemática numa verdadeira Sociedade Científica, ampliando o número dos seus sócios, realizando Congressos Anuais para discutir os problemas do ensino secundário e superior, além das habituais conferências e comunicações, é outro problema que merece cuidadosa atenção, porque contribuirá para estimular os contactos pessoais, criando um ambiente de cooperação entre todos os matemáticos que é necessário concretizar. Essas reuniões, em que se procuraria congregar o maior número possível de matemáticos, deveriam ter um temário, tão amplo quanto possível, porque não existe nenhum aspecto da cultura matemática que não tenha o seu interesse.
Outro problema de primordial importância é o melhoramento do nível de vida dos matemáticos, sobretudo dos professores do ensino secundário e dos assistentes universitários.
A realização de cursos de férias, destinados aos professores para o aperfeiçoamento dos seus conhecimentos científicos, seria uma iniciativa de grande alcance, se fossem concedidas as facilidades de ordem económica indispensáveis.
De um modo geral o problema tem de ser encarado sob múltiplos aspectos, mas é claro que nunca devemos esquecer que o objectivo a atingir é a elevação do nível da cultura matemática portuguesa e que, portanto, a tarefa principal consiste em conduzir o maior número possível de estudiosos ao conhecimento do pensamento matemático moderno, encorajando aqueles que manifestem capacidade para o trabalho original.