domingo, 22 de julho de 2007

"O exílio forçado que Monteiro experimentou deixou-lhe marcas..."

Digitalização de Jose Marcilese
© Família de António Aniceto Monteiro
O exílio forçado que Monteiro experimentou deixou-lhe marcas, que foram reveladas anos mais tarde, conforme carta enviada a Maria Laura, quando esta também se encontrava no exílio na França. Nela ele revelava uma certa insatisfação pela fato de ter estado tantos anos afastado do grande centro intelectual que era Paris e de seu isolamento na América Latina. “Voltei a Paris depois de 34 anos de ausência e verifiquei que estive perdendo o meu tempo nos 25 anos que levo em América Latina”. [...] “recebi convites para fazer conferências cm Lisboa, Madrid, [...] Roma, Bruxelas, Paris, Montpellier, Lyon, Clermond-Ferrand, sem dar um só passo com este objetivo. Recusei os convites de Lisboa e Madrid. De Lisboa consultaram-me sobre a minha designação como membro correspondente da Academia de Ciências, sob o pretexto de ser «uma pessoa que prestou tantos serviços a Portugal e que fui tão mal tratado». Esta diligência foi feita no momento em que se tratava da eleição do Nachbin como membro correspondente da Academia. A esta consulta nem sequer respondi. Ao convite para dar conferencias da parte do «Instituto para Altas Culturas» respondi que não aceitava” (Carta para Maria Laura, 10 de Julho de 1970).
Monteiro deixa transparecer nesta correspondência que restou uma grande mágoa por seu exílio político na América e que Portugal parecia não merecer sua volta. “Volto para a Argentina sem ir a Portugal. [...] Tive o cuidado de escolher um barco que não pára em Portugal. Ao sair de Vigo talvez veja a costa de Portugal de longe! O fascismo continua em Portugal devido ao apoio inglês e yanque. Assim são as democracias ocidentais e cristãs! A palavra de ordem «abaixo o fascismo» não perdeu atualidade desde a década de 30, inclusive em França” (Carta para Maria Laura, 10 de Julho de 1970).

Amor e ódio por Portugal! As emoções que Monteiro deixa transparecer nesta carta revelam que por trás do matemático conceituado encontra-se o ser humano, que precisou partir de seu país por convicções ideológicas e que no fundo não aceitava essa situação que lhe foi imposta. Todas as atividades que desenvolveu e as manifestações que fez em sua numerosa correspondência com os amigos brasileiros revelam que Monteiro tinha um caráter forte, possuía muita iniciativa, convicções políticas profundas, e um espírito muito criativo. Com a abertura política em Portugal, em 1974, viabilizou-se a ida de Monteiro a Portugal, em 1977, e a possibilidade de fazer as pazes com seus compatriotas.
[De] ANTÓNIO ANICETO RIBEIRO MONTEIRO (1907-1980), por CIRCE MARY SILVA DA SILVA (UFES - Vitória)