Página 4 de uma carta de 1923. A caricatura, cujo autor é Abel Salazar, representa Celestino da Costa no Congresso de Lyon.
(...)
Seja como for, este incidente [a demissão de Celestino da Costa do Instituto de Alta Cultura] veio pôr bruscamente em evidência as gerais simpatias dos nossos meios científicos pelo prof. Celestino, e o reconhecimento pela sua obra e serviços prestados. Não lhe falo como velho amigo, mas como simples observador, pois tenho notado com prazer este movimento de simpatia para com o prof. Celestino. Pelos informes do Ruy e do Corino sei o que se pensa em Lisboa: e todos esses informes revelam ao mesmo tempo a inquietação produzida pelo incidente e a atmosfera de simpatia que ele determinou a seu respeito. A justiça que lhe fazem amigos é menos impressionante do que a que lhe fazem indiferentes e até inimigos — mesmo aqueles que com razão ou sem razão — tinham qualquer razão de queixa da Alta Cultura.
O Aniceto Monteiro disse-me: — É o único homem que sabe ver as coisas e com quem a gente pode entender-se, e o Corino por seu turno tem afirmado por toda a parte: — Pense-se o que se quiser sobre o prof. Celestino, ele é, entre nós, o único homem indicado para aquele lugar. Cito estas afirmações porque elas definem bem a corrente geral.
De resto, como disse, o contraste entre a antiga e a moderna direcção da Alta Cultura é de tal calibre e tem feito tal impressão, que eu suponho que isto, tarde ou mais cedo, terá de sofrer um remendo... a não ser que tudo isto leve água no bico.
Em suma, saiu deste incidente com força moral aumentada e o seu nome mantém uma esperança. É já alguma coisa no meio deste descalabro moral que é a vida portuguesa.
(...)
(Abel Salazar - 96 cartas a Celestino da Costa)
Seja como for, este incidente [a demissão de Celestino da Costa do Instituto de Alta Cultura] veio pôr bruscamente em evidência as gerais simpatias dos nossos meios científicos pelo prof. Celestino, e o reconhecimento pela sua obra e serviços prestados. Não lhe falo como velho amigo, mas como simples observador, pois tenho notado com prazer este movimento de simpatia para com o prof. Celestino. Pelos informes do Ruy e do Corino sei o que se pensa em Lisboa: e todos esses informes revelam ao mesmo tempo a inquietação produzida pelo incidente e a atmosfera de simpatia que ele determinou a seu respeito. A justiça que lhe fazem amigos é menos impressionante do que a que lhe fazem indiferentes e até inimigos — mesmo aqueles que com razão ou sem razão — tinham qualquer razão de queixa da Alta Cultura.
O Aniceto Monteiro disse-me: — É o único homem que sabe ver as coisas e com quem a gente pode entender-se, e o Corino por seu turno tem afirmado por toda a parte: — Pense-se o que se quiser sobre o prof. Celestino, ele é, entre nós, o único homem indicado para aquele lugar. Cito estas afirmações porque elas definem bem a corrente geral.
De resto, como disse, o contraste entre a antiga e a moderna direcção da Alta Cultura é de tal calibre e tem feito tal impressão, que eu suponho que isto, tarde ou mais cedo, terá de sofrer um remendo... a não ser que tudo isto leve água no bico.
Em suma, saiu deste incidente com força moral aumentada e o seu nome mantém uma esperança. É já alguma coisa no meio deste descalabro moral que é a vida portuguesa.
(...)
(Abel Salazar - 96 cartas a Celestino da Costa)
*
[Em 1947] Foram compulsivamente afastados do ensino universitário, entre outros: Ruy Luís Gomes, Mário Silva, Celestino da Costa, Cândido de Oliveira, Pulido Valente, Fernando Fonseca, Adelino da Costa, Cascão de Ansiães, Torre de Assunção, Flávio Resende, Ferreira de Macedo, Peres de Carvalho, Marques da Silva, Zaluar Nunes, Rémy Freire, Crabée Rocha, Dias Amado, Manuel Valadares, Armando Gibert, Lopes Raimundo, Laureano Barros, José Morgado, Morbey Rodrigues. Quase todos eles (21 – número confirmado) foram afastados em 18 de Junho de 1947, ao abrigo do decreto 25 317. Foi o golpe fatal sobre o Movimento Científico.
Decreto-lei n.º 25:317, de 13 de Maio de 1935