segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

«O Aniceto Monteiro disse-me...»: carta de Abel Salazar a Celestino da Costa de 1942

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Seja como for, este incidente [a demissão de Celestino da Costa do Instituto de Alta Cultura] veio pôr bruscamente em evidência as gerais simpatias dos nossos meios científicos pelo prof. Celestino, e o reconhecimento pela sua obra e serviços prestados. Não lhe falo como velho amigo, mas como simples observador, pois tenho notado com prazer este movimento de simpatia para com o prof. Celestino. Pelos informes do Ruy e do Corino sei o que se pensa em Lisboa: e todos esses informes revelam ao mesmo tempo a inquietação produzida pelo incidente e a atmosfera de simpatia que ele determinou a seu respeito. A justiça que lhe fazem amigos é menos impressionante do que a que lhe fazem indiferentes e até inimigos — mesmo aqueles que com razão ou sem razão — tinham qualquer razão de queixa da Alta Cultura.
O Aniceto Monteiro disse-me: — É o único homem que sabe ver as coisas e com quem a gente pode entender-se, e o Corino por seu turno tem afirmado por toda a parte: — Pense-se o que se quiser sobre o prof. Celestino, ele é, entre nós, o único homem indicado para aquele lugar. Cito estas afirmações porque elas definem bem a corrente geral.
De resto, como disse, o contraste entre a antiga e a moderna direcção da Alta Cultura é de tal calibre e tem feito tal impressão, que eu suponho que isto, tarde ou mais cedo, terá de sofrer um remendo... a não ser que tudo isto leve água no bico.
Em suma, saiu deste incidente com força moral aumentada e o seu nome mantém uma esperança. É já alguma coisa no meio deste descalabro moral que é a vida portuguesa.
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(Abel Salazar - 96 cartas a Celestino da Costa)


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