domingo, 18 de março de 2007

Sul de Angola

Militares Portugueses no Lubango, Janeiro de 1915
(...)

Em 1915, depois de desembarcar em Moçâmedes, a expedição de Pereira d’Eça subiu ao planalto e prosseguiu para Leste, mantendo-se a alguns dias de marcha do Cunene, para evitar incidentes na preocupante fronteira com a colónia alemã do Sudoeste Africano.

Nas deslocações de uma coluna militar, a cavalaria tinha por missão explorar o terreno na vanguarda e nos flancos, em constante movimentação, procurando evitar que a infantaria fosse surpreendida.

(...)

O itinerário da expedição tinha sido preparado pelo “serviço de etapas”, fixando os locais de abastecimento, em especial os cursos de água, onde homens e animais poderiam dessedentar-se. No entanto uma seca rigorosa gorou as expectativas, e depois de atravessarem vários leitos secos, houve que inflectir para o Cunene. Foi uma longa marcha, sempre a passo para evitar a transpiração, mas sem paragens, até porque nos últimos quilómetros nada detinha os animais, nem os fazia desviar do caminho do rio. Apesar de toda a sua fidelidade, os cavalos podiam virar a cabeça, apertados pelo freio dos cavaleiros, e tentavam acelerar o passo na direcção da água que já pressentiam, e a que conseguiram chegar nos limites da desidratação.

A cavalaria era uma arma fundamental nas vastidões africanas, mas seguindo o ditado português de que “quem não tem cão caça com gato”, quando não havia cavalos, os dragões montavam muares. Naquelas condições a sua segurança era dramaticamente reduzida, porque a vantagem da cavalaria era a rapidez. Com as mulas não se pode andar a “mata cavalos”, porque quando estão cansadas empinam-se, escoucinham, mas não avançam. Os dragões que só conseguiam mulas para as suas missões de patrulha despediam-se em grande pranto dos camaradas, porque dificilmente conseguiriam regressar.

Reagrupada e reabastecida a expedição, foi decidido que só uma progressão muito rápida sobre os objectivos conseguiria surpreender o inimigo, e concluir com sucesso a expedição. Rapidez significava naquelas circunstâncias, significava andar a mais de 30 quilómetros por dia, que era a velocidade de transmissão das mensagens dos “tantans” africanos. Assim os soldados, subalimentados e desidratados, foram obrigados a uma marcha forçada, que provocava frequentes desfalecimentos.

Certamente havia macas, mas não havia maqueiros, e o Dr. Monteiro d’Oliveira, movimentando-se na rectaguarda, recolhia os soldados desfalecidos, atravessava-os no cavalo, e levava-os até um carro de bagagem , onde ficavam estendidos o resto do dia. Como medicamentação recebiam um remédio precioso pela sua escassez: ¼ de água das pedras. A terapêutica era eficaz a 100% e no dia seguinte os soldados já marchavam ao lado dos camaradas.

A pronta recuperação de tantas baixas acabou por ser notada pelo general Pereira d’Eça, que mais tarde exarou um louvor ao tenente-médico António Monteiro d’Oliveira.

Finalmente a vila de N’giva (futura vila Pereira d’Eça) surgiu à vista da coluna. Era um dos principais objectivos da missão. Os dragões carregaram, a população fugiu, e quando a infantaria chegou a embala estava abandonada. A tomada de NGiva foi um sucesso, não só pelo reduzido número de baixas, mas também pela captura de documentação, nomeadamente uma curiosa carta de um missionário luterano, desaparecido na confusão do ataque, que comunicava aos seus superiores no Sudoeste Africano que a coluna portuguesa tinha sido totalmente derrotada...

[Copiado de Antigamente... ]